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Apesar dos discursos sobre o improviso acerca do planejamento urbano brasileiro, ou a falta dele, autores relevantes demonstram que sempre houve um plano consistente de ocupação do território brasileiro, porém, não direcionado para as questões urbanas. A urbanização no Brasil assumiu configurações específicas que não podem ser explicadas com empregos de modelos constituídos para análise da urbanização europeia e, por isso, é tomada por aleatória mas, observado pela ótica do capitalismo dependente, concluímos que sempre houve um planejamento, desde o período colonial, porém voltado para os grupos econômicos ligados ao poder.

 

Diante disso, as previsões de especialistas sobre o colapso urbano vêm se consolidando (trânsito, falta de abastecimento, conflitos sociais, etc.) com acelerada deterioração da vida urbana, em que o agravamento dos problemas urbanos está diretamente relacionado ao direcionamento do planejamento urbano para grupos econômicos. Os símbolos do medo decorrente dos problemas urbanos percebem-se cada vez mais evidentes rarefazendo e introvertendo a vida urbana para espaços privados e individualizados, como são condomínios fechados, os shoppings e outros espaços que pretendem reproduzir o espaço público em áreas privadas.

 

Os limites claros entre espaços públicos e privados e entre as funcionalidades dos espaços urbanos, paradoxalmente, foram se diluindo após o período moderno. Os preceitos dos CIAM’s indicavam, de forma geral, que as cidades caminhavam para uma configuração setorizada entremeada e conectada por espaços públicos. Porém, nas cidades onde o urbanismo é orientado por interesses privados, estes elementos de aglutinação foram suprimidos: as ruas foram então dedicadas ao transporte (principalmente individual e motorizado); os espaços de transição, privatizados; e as praças e parques, reduzidos a áreas verdes cenográficas, cercadas ou simplesmente revertidas para outros fins. 

 

Os espaços livres públicos são lugares de realização da vida pública e, portanto, dos conflitos e acordos que movem os processos de política e cidadania. Nesse sentido, os espaços de construção da cidadania se apresentam, na atualidade, colocados em segundo plano e as atividades coletivas interiorizadas em espaços privados, desconectados, estanques.

 

A esfera da vida pública não se dá, pois, no espaço isolado, mas na totalidade destes espaços que têm entre si uma relação de interdependência e são compreendidos na dimensão da cidade ou região. Os espaços livres urbanos são um sistema complexo, inter-relacionado com outros sistemas urbanos com múltiplas funções, por vezes sobrepostas (circulação, drenagem, lazer, conforto, preservação, conservação, convívio, locomoção, etc.).

 

O pensamento sistêmico sobre os espaços livres públicos apresenta-se então mais adequado à configuração de cidade contemporânea cujos usos e funções são mutáveis, sobrepostas, circunstanciais. Entendê-los como redes processuais seria, simultaneamente, consistente com as questões do tempo presente e também capaz de uma abordagem que amortiza a fragmentação do espaço urbano que esfacela a vida pública.

 

Deste modo, mais que a delimitação de diretrizes e metodologias de projetos urbanos, faz-se necessário, antes, uma leitura da cidade e de seus sistemas, consistente com a realidade brasileira e latino-americana, caracterizada pela fragmentação urbana e a segregação de classes, em que a simples importação de metodologias revela-se estéril. A abordagem sistêmica é necessária tanto para a compreensão do espaço livre em si, que não se dá de forma isolada, quanto para uma possível reversão da situação de fragmentação em que se encontram as cidades na contemporaneidade.

 

Busca-se uma leitura não-morfológica dos ELP’s como orientadora de diretrizes para projetos urbanos. As diretrizes projetuais aqui propostas para estes espaços têm origem na reorientação do planejamento urbano de interesses setoriais econômicos para questões da população.
 

 

Cartilha Parque Bananeiras

Projeto Sistemas de Espaços Livres Públicos - Parque Bananeiras

Data 2016

Local Conselheiro Lafaiete - MG

Autoria Carolina Antonucci. Coordenação: Prof. Fábio Lima

Destino Trabalho de Conslusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF

SISTEMAS DE ESPAÇOS PÚBLICOS - PARQUE BANANEIRAS

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